domingo, 28 de fevereiro de 2016

Vímana


Os integrantes originais do Vímana eram oriundos de duas bandas: Módulo 1000 e Veludo (antes Veludo Elétrico), exceto Lobão.
Alguns fatos, não confirmados, apontam que Fernando Gama teria abandonado o Veludo e começou inicialmente ensaiando com Simas e Candinho para um projeto de uma banda pesada, algo na linha do Módulo 1000, só que mais trabalhado nos arranjos. E depois teria entrado Luiz Maurício (Lulu) por sugestão de Gama. Com essa formação, a banda tocava hard-rock, pois Lulu veio para injetar um pouco de influência bluseira e do rock tradicional. Mas, pouco depois, foi tomando uma linha progressiva, com influência de Yes, Gênesis, Emerson, Lake & Palmer e Mahavishinu Orchestra, cantado em português, o que era natural já que, na época, os Mutantes e O Terço ditavam as regras por aqui em termos de som. Como havia poucas composições, as músicas eram longas (praxe no rock progressivo).
O grupo tinha inúmeros problemas em casas de show, pois o seu som (sofisticado, tecnologicamente, para a época) com a indigência dos equipamentos de palco que eram usados. Luiz Paulo, por exemplo, era dono de uma das maiores novidades tecnológicas no Brasil em 1971: um sintetizador. Foi o segundo no Brasil e primeiro no Rio de Janeiro.Tinha também, um E.M.S inglês com matrix, o que impressionava muito nesse tempo.

As primeiras apresentações


Depois de vários ensaios, finalmente estreiam no reveillon de 73/74. Como disse Lulu, tempos depois, foi um “showzaço” no Jogo Caetano, Praça Tiradentes, centro do Rio. Nesse mesmo dia, os mais esperados eram os Mutantes (sem Rita e Arnaldo), O Terço (com Flávio Venturini) que fizeram o melhor show na ocasião e a banda O Peso. Seguiram-se outros shows como um em festival em Agosto de 74, talvez o mais expressivo, inicialmente, foi no Teatro João Caetano (RJ).
Um bom exemplo dessa fase pode ser visto na gravação do show histórico do Hollywood Rock em 75 (iniciativa de Nelson Motta de se fazer um dos primeiros festivais de rock no Brasil, mas, oficialmente, não se reconhece como o primeiro Hollywood Rock), show esse que pode ser encontrado em fitas piratas. A banda mostra técnica (principalmente nos teclados de Simas), mas, a iluminação não estava boa, até o Raul Seixas (que tocou mais tarde) reclamou. Infelizmente, o show foi marcado pelo desastre, já que o som deixou a banda na mão logo depois de tocarem a música “Perguntas”.
Tocaram também no dia: Rita Lee & Tutti-Frutti, A Bolha, Erasmo Carlos e Celly Campello.

Mudanças na banda


Nesse ano, sai Candinho, que resolveu entrar numa seita oriental seguindo um tal de guru Mahara-ji, e por pouco, a banda não termina por aí. Na verdade, ele teria sido demitido por incomodar os outros integrantes que comiam carne. Apesar da saída do baterista, agora como trio, o Vímana registraria suas participações em LP’s de outros artistas, como músicos de estúdio. Entre essas gravações destacam-se o disco “Ave Noturna” de Fagner, com as músicas “Riacho do Navio” e “Antonio Conselheiro”, sendo que nesse disco, Lobão toca como baterista freelancer, e nessas sessões teria conhecido Lulu e os outros. E também o disco “Eu queria ser um anjo” da cantora Luiza Maria na faixa “Maya”, com arranjo de Jim Capaldi (Ex-Traffic), com Rui Motta na bateria.
Na vontade de continuar a manter a banda ativa, Lulu, Simas e Gama resolvem procurar músicos para preencher as vagas de vocalista, já que Lulu estava disposto a abandonar o vocal e centralizar no trabalho de guitarrista, e fica em dúvida quanto a quem chamar para os postos. Para vocalista, não importavam a princípio se fosse uma cantora ou um cantor. Até que, entre uma das apresentações de bandas com influências progressivas no Rio de Janeiro, Lulu conhece Richard Court (Ritchie), flautista inglês, recém-demitido da Barca do Sol, e pensou se não seria interessante tê-lo na banda e quem sabe, fazer algo na linha do Jethro Tull. Lulu já tinha visto o inglês no grupo Scaladácida em show no Teatro do Zacharia em Sampa.
O convite que Lulu, Luiz Paulo e Gama fizeram a Ritchie hoje é histórico – os quatro se encontraram na Praça General Osório, em Ipanema no RJ, Lulu teria dito: “Ainda bem que você saiu daquela merda! (A Barca). Quer tocar com a gente?”. Depois de muito bate-papo na casa de Bernardo Vilhena, com quem Ritchie compunha na época, este topa entrar. Para agradar o inglês, Lulu teria levado “2 maria-moles!”.
Mas precisavam ainda de alguém para substituir Candinho. O grupo chegou a fazer uma tentativa com o baterista Azael Rodrigues, que tinha tocado no Scaladácida com Ritchie, mas não funcionou. Este teria dito que “não curtiu tanto assim a banda”. Depois disso seguiram-se outros bateristas, mas a ideia era colocar Rui Motta, só que este estava fixo nos Mutantes de Sérgio Dias já há algum tempo, até que, durante um ensaio, optaram por um garoto, que foi sugestão de Inácio Machado, um admirador do grupo, chamado João Luís Woedenbarg (depois apelidado de Lobão), de 17 anos, que estava mais a fim de tocar violão clássico e achava rock coisa de colonizado.
Para fazer esse teste, na hora acertada, Lobão chegou no extinto Casagrande trazendo a bateria semidesmontada dentro de um táxi Fusca. O restante do grupo obsevava... aí, o garoto “demoliu a bateria num solo meio Keith Moon”, como disse Lulu, “... e a gente achou aquilo fa-bu-lo-so” . Ritchie definiu como “um samba no ritmo da Mangueira”. Acabou agradando ao grupo que tinha que viajar com o espetáculo “Feiticeira”, de Marília Pêra, produzido pelo então marido da atriz, Nelson Motta. Porém, eles ainda eram apenas músicos contratados para o espetáculo, só que o empenho e a vontade do baterista fez o restante decidir que o grupo deveria continuar unido com o nome Vímana e assim prosseguiu.

Formação clássica

Essa foi a formação que mais durou (Gama, Lobão, Simas, Lulu e Ritchie), dessa vez como um quinteto, e que ficou predestinado como a formação clássica. Com o time formado, foram para São Paulo se apresentar no espetáculo musical-teatral “Feiticeira”, que apesar de ter sido um fracasso total, a atriz tinha uma banda fixa e a banda tinha local (Teatro Maison de France), aproveitando a temporada da peça, para ensaiar seu repertório. Acompanharam a atriz tanto na peça como em disco, mas somente em uma faixa: “Avô do Jabour”. O disco saiu pela Som Livre em 1975 com músicas de Jards Macalé, Jorge Mautner, Eduardo Dusek, entre outros.
Em São Paulo, ficaram num apartamento na Rua D. Antonia de Queiroz, bairro Consolação. Foi daí em diante que o grupo se fechou para a retomada.
A partir daí, a banda conquistava um público fiel e, finalmente, tinham estourado como uma banda relevante naquele cenário meio marginal do rock nacional. Chegaram a fazer shows lotados no Teatro Tereza Raquel, Teatro Casagrande, Teatro Galeria e no Museu de Arte Moderna (MAM), RJ. Basicamente, só tocavam no Rio, pois, de acordo com o livro BRock, de Artur Dapieve, “o equipamento era tão pesado que o jeito era ficar por lá mesmo”. Os problemas mais freqüentes eram sempre com o som e com a repressão do regime militar. O período era produtivo para o rock, (apesar da onda “disco”) e a banda abria shows de Hermeto Paschoal, Terreno Baldio e A Bolha.
Às vezes, ensaiavam também no sítio dos tios de Lobão, em Pedro do Rio (RJ).
Quando ainda estavam em São Paulo, tocaram na Fundação Getúlio Vargas na edição do Festival Banana Progressiva realizado no Teatro da Fundação nos dias 29 de Maio a 1º de Junho, porém, só no Rio é que eles obtiveram melhor aceitação, como na Sala Corpo do MAM e Teatro Tereza Raquel. Na ocasião do Banana Progressiva, os mesmos mal sabiam onde estavam em São Paulo, pois não conheciam a cidade.
Existe registro em vídeo dessa apresentação do grupo também, porém, este vídeo está em poder de um dos organizadores do evento. A TV Cultura já divulgou trechos dessa apresentação do grupo , o que, de certa forma, foi uma surpresa já que só era conhecido o registro do Hollywood Rock que mostra a primeira formação. Nesta, é a formação com Lobão e Ritchie. A imagem tinha qualidade baixa, mas de boa resolução e mostrava o grupo tocando sob uma forte luz vermelha.

Disco

Em 1977, como processo de teste, (a instalação do primeiro estúdio Level de 24 canais no Brasil, que eram equipamentos do recém-fundado estúdio da Som Livre e que teriam sido comprados do engenheiro americano Don Louis) a banda conseguiu gravar um LP inteiro, a convite de Guto Graça Melo, que era diretor musical do espetáculo de Marília Pêra. Na verdade, os integrantes do Vímana pediam a todo momento um tempo nesse recente estúdio para gravar suas músicas e os operadores do estúdio liberaram, o que caiu como uma luva para ambos, afinal, o grupo gravaria seu material enquanto o recente estúdio era montado e os equipamentos testados. Infelizmente, o LP nunca foi lançado - apesar das masters estarem em algum lugar -, ou seja, tanto trabalho pra nada. Como pretexto oficial, a gravadora disse que não lançaria, pois não haveria público para o disco. E hoje? Com certeza tem e muitos... Será que na época não teria mesmo?
Deste disco, a gravadora optou por lançar somente um compacto como carro-chefe seis meses depois. O compacto ficou sendo o único registro oficial da banda. As músicas: “Zebra (Lulu/Ritchie/Lobão) e “Masquerade” (Simas/Ritchie). 

1977 - On the Rocks
http://*www.*mediafire*.com/download/lp238330b3az2bm/1977+-+On+The+Rocks.rar (precisa tirar os *)


01 Perguntas
02 Masquerade
03 On the Rocks
04 Cada Vez
05 Zebra
06 Maya
07 Lindo Blue
08 Masquarade
09 Avô do Jabour
10 Perguntas
11 Riacho do Navio
12 Antonio Conselheiro
(*) estou procurando os compositores das músicas, caso alguém saiba, ficarei agradecido de me mandarem.

Recentemente, foi lançado numa coletânea do Lulu Santos, chamada E-Collection, a música Zebra. “O nome ‘Zebra’ escolheu-se porque só o fato de o disco sair já seria uma zebra para a gente”, ironiza Lobão.
Na época, foi mal divulgado e mal lançado e com erros de mixagem. Estima-se ter vendido no máximo 2000 cópias. Houve, também, um atraso considerável no lançamento do compacto. A intenção era distribuir uma cópia para cada pessoa do público num show no MAM, que estava lotado, ou seja, a Som Livre perdeu a chance de divulgar e não tentou corrigi na época.

Depois de tanta frustração com o fracasso do compacto, a banda se retirou para um sítio em Pedro do Rio (RJ) onde viviam do que plantavam. Porém, os ensaios ainda eram cada vez mais freqüentes. Lobão e Gama tocavam choros de Villa-Lobos, fazendo uma espécie de duo de violões que tinha até nome: “Duodeno!”. Luís Simas também desenvolvia novas possibilidades em seu instrumento, inclusive, nos shows ele tocava um tema chamado “Parece um chorinho” em piano solo, o que chamou atenção de críticos na época. Teve revista que anunciou coisas como: “Chorinhos já são ouvidos nos palcos do rock brasileiro”. O que prova que não havia radicalismo no estilo do grupo, que já começava a compor temas mais “funk” para se aproximar de algo mais comercial e atual para a época.

Infelizmente, essa tentativa também foi frustrante, pois, quando saiu o compacto, Lulu e Lobão saíram para divulgá-lo e foram atrás do grande Big Boy (famoso DJ na época que abria sempre seus programas com a frase “Hello, Crazy people! Aqui é Big Boy!”
Eles pediram que tocasse “Zebra” e o DJ teria dito “Ah é? E cadê a bufunfa?”, o que causou uma tremenda dor de cabeça aos dois na época, seguido depois de uma revolta que perdura até hoje. Curiosamente, Big Boy morreu nessa mesma época, em 1977.

O Começo do Fim!

Durante esse período, a banda conheceria Patrick Moraz (ex-tecladista do Yes que tocou no disco “Relayer”), que estava no Brasil a fim de pesquisar a cultura “exótica” do nosso país, inclusive, é dele os teclados da faixa “Avohai” de Zé Ramalho, além de participar de discos de outros artistas como Gilberto Gil. Os músicos do Vímana o conheceram quando este esteve no Rio de Janeiro, e apareceu no show do Vímana no colégio Bennett, sendo que o mesmo já tinha dado uma canja numa apresentação do grupo Veludo em um fantástico show no Teatro Tereza Raquel, em Março de 1975.
Os rapazes acharam o máximo e depois disso, Luís Paulo e Ritchie foram à Inglaterra levar uma cópia daquele que seria o disco inédito para Patrick ouvir. Um certo dia, Patrick ligou para Luís Simas e disse que tinha acabado de sair do Yes e que tinha planos de montar uma banda com eles, para espanto geral da turma.
Obviamente, eles ficaram impressionados com o interesse do tecladista suíço. Com ele, ensaiaram secretamente durante 9 meses em São Conrado (RJ) sem o Lulu, pois Lulu não estava nos planos de Patrick... dizem que o estilo de tocar dele e a sua personalidade incomodavam o gringo.
Ao que consta, eram sempre ensaios cansativos, com direito a aulas de contra-ponto e suítes progressivas longuíssimas (dizem até que o gringo chegou a dar compassos complexos no quadro negro para os músicos solfejarem, como 9/7, 7/3, 8/5). Moraz tinha como objetivo fazer a banda excursionar pela Europa e EUA, ao seu lado, e competir com o seu ex-grupo. Chegaram até a conhecer um dos diretores de uma gravadora inglesa. Tudo estava programado para que eles morassem na Europa.
É claro que isso era sensacional para uma banda que tinha uma vida hippie e estava vivendo anônima ao sucesso comercial. Mas, a chance não era para todos, o que dá entender que Patrick Moraz aproveitaria alguns dos integrantes para a “sua banda de apoio”. O mesmo chegou a dar entrevistas citando o nome de alguns membros do grupo e anunciando sua banda chamada “Patrick Moraz Band”. Outra lenda que corre é que Patrick Moraz queria, a princípio, fazer a banda tocar o repertório do seu disco recém lançado com um título meio estranho (The Story of I), só que a banda tinha que tirar de ouvido, pois não tinha nada na pauta.

1977 - Completo
http://*www.*mediafire*.com/download/62gk8pafk196n2s/1977+-+Completo.rar (precisa tirar os *)

01 Perguntas
02 Masquerade
03 On the rock
04 Cada vez
05 Zebra
06 Maya
07 Lindo Blues
08 Masquerade
09 Avô do Jabour
10Perguntas
11 Riacho do Navio
12 Antonio Conselheiro
13 Speedway
Vímana with Patrick Moraz

01 Tem Gringo no Choro *
02 Kuluene *
03 Marimba *
04 Cromática *
05 Just a matter of time *
(*) estou procurando os compositores das músicas, caso alguém saiba, ficarei agradecido de me mandarem.


The End

Chega o começo de 1978, o estresse se generalizou no grupo, as brigas se tornaram constantes e a paciência se esgotou. Lulu (que já não estava na banda há quase 9 meses) percebeu que não iria dar em nada ficar enclausurado esperando acontecer alguma coisa, pois a banda não estava mais em suas mãos e também por não enxergar nenhuma expectativa (ele, ainda hoje diz que foi demitido pelos outros integrantes!). Lobão se desentendeu com Moraz (andou muito com a esposa do gringo!). Outro motivo aceitável para o fim foi o fato de que Lulu, Ritchie e Lobão (autores de “Zebra”, a música mais pop que eles fizeram), estavam rompendo para as composições no formato de canção e querendo fugir das “suites sem fim”.
A banda não tinha certeza do que Moraz queria, ele exagerava com suas promessas e o desgaste foi natural. No período em que Moraz esteve com o grupo, o mesmo ensaiou e registrou algumas gravações, como algumas composições de Fernando com Ritchie. Uma delas, um choro chamado “Tem gringo no Choro”, entre outras coisas bem progressivas. Coisas que talvez nenhum grupo no Brasil tinha produzido até então, no que diz respeito a qualidade sonora dos temas bem progressivos. Dessas sessões (que já não contavam mais com Lulu no grupo), algumas ainda permanecem inéditas. Logo depois, o grupo se desfez e apenas Fernando Gama topu continuar por um tempo com Moraz, que voltou para a Europa para finalizar seu disco e integrar o “The Mooby Blue”. Mesmo assim, só gravou um disco que foi lançado na Europa e depois, Fernando voltou ao Brasil e fez parte da última formação dos Mutantes, em 1978 (que terminou logo em seguida também com o último show em Ribeirão Preto (SP)). Algum tempo depois, se lançou solo, tocou com vários artistas e entrou para o Boca Livre. Basicamente solidificou seu estilo com base em MPB. Seus discos solos demonstram uma característica muito peculiar e tem uma qualidade excelente na área instrumental.

Lulu começou a compor e gravar com outros artistas até se lançar solo, como Luiz Maurício. Foi um começo frustrante, pois o disco foi um fracasso. Mas, foi só mudar o nome artístico que as coisas foram acontecendo. Numa carreira super bem sucedida, Lulu surpreende pelas vendagens de sues discos e da capacidade de compor canções de extremo bom gosto, oscilando entre o pop e MPB. Dos ex-integrantes do Vímana, é, com certeza o que teve melhor êxito comercial.

Ritchie voltou a dar aulas de inglês e alguns anos depois se lançou solo. Se tornou um fenômeno de vendas graças ao mega hit “Menina Veneno” e chegou a vender tanto quanto Roberto Carlos, causando a ira e a inveja de artistas como a cantora Alcione, conhecida como “A marrom”, que teria dito: “Por que esse inglês não volta para a sua terra?”. Entre seus trabalhos mais interessantes, destacam-se o supergrupo “Tigre de Bengala”. Inicialmente, sua música era voltada ao romantismo exagerado, mas, a qualidade de seus trabalhos menos comerciais mostra um artista perfeccionista e descompromissado. Atuou também como webdesigner fazendo cursos intensivos nessa área.

Lobão ficou entretido em livros e partituras para depois virar freelancer. Tocou com alguns artistas (Marina, Zé Ramalho), para depois formar a “Blitz” e saiu da banda porque cansou da postura “yeah, yeah, yeah” do grupo e também pela demora de acontecer alguma coisa. Depois, formou o “Lobão e os Ronaldos”. Sendo um artista polêmico e de gênio forte, Lobão representa toda a rebeldia que caracteriza o rock and roll. O forte de suas composições é o cinismo e as baladas doces que caracteriza seu estilo inconfundível.

Simas também se tornou freelancer, além de criar para a rede Globo o famoso “Plim-Plim”, que se tornou marca registrada da emissora. Algum tempo depois, foi residir nos EUA. Tocando, basicamente, peças ao estilo Ernesto Nazaré, chorinhos ou jazz-fusion, Simas sempre primou pelo virtuosismo. Talvez, de todos eles, Simas seja o músico que mais leva na bagagem a herança dos áureos tempos do progressivo, pois, em seus trabalhos solos, mesmo sendo um desconhecido do grande público, ele faz uma mistura bem distribuída de técnica, conhecimento, bom gosto aliada principalmente a seu ideal e fazer música de primeira linha.

A ponte do progressivo com a MPB de hoje

A banda se tornou cult ao lado de outras bandas setentistas como Secos & Molhados, O Terço, Terreno Baldio e Moto Perpétuo. Mas, talvez o mais curioso disso tudo é que alguns de seus ex-integrantes abominam a ideia de falar sobre isso. Seria uma negação ao passado? Arrependimento do que fizeram mesmo com todos curtindo muito aquele tempo? Como Luís Simas disse, eles adoraram aquele período, tanto que, até hoje, Lulu se magoa com o fato de sua banda, que ele fez de tudo para continuarem juntos, acabou culminando na idéia de que ele não era bom o suficiente para continuar e isso o deixou arrasado. O próprio Ritchie confirmou isso numa entrevista. E se, de alguma maneira, Lulu quer esquecer o Vímana, é porque ele quer esquecer também o vexame que foi o fim da banda e ainda ver todo um trabalho nunca ser lançado. Luìs Simas afirma também que as músicas lançadas em compacto não mostram nem um terço do que realmente eles eram capazes de fazer e que as que estão inéditas sim eram dignas de serem mostradas, de mostrar o quanto havia espírito de grupo nas composições. Percebe-se isso um pouco nos registros disponíveis do grupo com Moraz.

É preciso que se diga que estilos musicais são sempre volúveis, dependendo do gosto. Mesmo quando um artista está bem lapidado em seu estilo, ele já teve fases em que pensou se poderia ser um Roger Waters ou um Noel Rosa. Isso, às vezes, pode parecer estranho ao ouvinte ou fã. Raros são os artistas consagrados que se pode ouvir o primeiro disco e o último e não perceber algo estranho ou mudanças. Com o Vímana não foi diferente. É claro que se, hoje, os ex-integrantes se juntassem para um projeto, provavelmente não iria ter sentido algum, a menos que alguns deles cedessem um pouco de si para o outro. Um revival do grupo aconteceu em um show no Mistura Fina, no Rio, em 2004, quando numa apresentação de Luís Simas, subiram no mesmo palco Ritchie, Lobão e Fernando Gama.

Curiosidades

- Moradia: por muito tempo, a banda chegou a morar numa casa em Santa Tereza (RJ) e depois, por algum tempo, em um sítio em Itaipava. Tinham um estilo de vida hippie, sem dinheiro e música o dia inteiro.
Dinheiro: todos os integrantes vieram de famílias de classe média alta. Mas, como estavam sobrevivendo como músicos, dividiam as contas entre eles mesmos, no melhor jeito familiar.

- Brigas: a banda chegava a brigar no palco em certas ocasiões. O convívio diário desgastou a banda cada vez mais, sendo isso, uma das razões para o término do grupo. Numa das brigas na frente da platéia, Lulu se desentendeu com Simas e abandonou o palco andando por cima das poltronas do teatro semi-vazio.

- Encontro progressivo: após o fim do Vímana, em 78, Lulu e Lobão se encontrariam em mais uma gravação bastante próxima do rock progressivo: “Lindo Blue”, música do disco “Respire Fundo”, de Walter Franco. Nesta mesma faixa, participaram também os irmão Mutantes Sérgio Dias (guitarra de 6 cordas) de Arnaldo Baptista (piano).

- Lulu Santos toca guitarra no disco de estréia de Lobão – Cena de Cinema de 1982. que, por sinal, tem a participação de Ritchie.

- Lobão e Simas tocam bateria e teclados, respectivamente, no disco de Joe Euthanazia – CP Mujer Ingrata de 1983.
- Simas compôs com Ritchie a música “Sombra da partida” e Ritchie compôs com Lobão “Bad Boy”. Ambas estão em discos de Ritchie.

- Ritchie canta no disco “Hyperconectividade” de Lulu na faixa “Vôo de Coração”, que foi um dos hits dele.

- Lulu e Lobão tocam, respectivamente, guitarra e bateria no disco de estréia de Ritchie. Depois do fim do Vímana, este foi o encontro que mais se destaca pelo fato de estarem presentes 3 dos 5 da formação clássica. O curioso disso é que o som que tocavam nesse encontro não tinha nada a ver com os temas progressivos de outrora. Mas, ao contrário de antes. As gravações desse encontro ganharam a mídia inteira e vendendo como água no deserto, bem ao estilo pop-romântico. Canções ocmo “Menina veneno” e Vôo de coração” fazem parte desse encontro.

- Malandro: numa recente entrevista, Lobão comenta que realmente ficou meses trabalhando para o Moraz, que só fazia promessas e mais promessas, sem nunca concretizar nenhum projeto e que isso estava deixando todos da banda muito chateado, até que um dia, ele chegou na esposa de Moraz – que era brasileira – e contou o seu drama. E a banda teve total apoio da esposa do cara. Lobão ainda diz que se tornou amante da esposa de Moraz, o que levou a banda e os tais projetos pro fundo do poço... Era o fim do “Yes brasileiro”. Com isso, Lobão ganhou sua primeira esposa, Liani Monteiro, uma mulher 12 anos mais velha que ele.

- Professor linha dura: contam que enquanto o Vímana desenvolvia determinado tema, o tecladista Patrick Moraz apontava para um desses ritmos complicados (9/7, 7/3, 8/5, etc.) obrigando a uma variação abrupta (característica do rock progressivo). Quando algum deles errava, Moraz ficava bastante irritado e isto, obviamente, tornou os ensaios bastante tensos. De todo modo, é provável que eles (Lobão e Lulu) estivessem já se afastando da proposta progressiva.

- Problemas: o choque de egos de Moraz e Lulu – que era o líder da banda – era inevitável. A banda começou a se fragmentar e a ter problemas com Patrick – especialmente Ritchie, que sentia dificuldades em ensaiar todo o repetório solo de Moraz (dificílimo, segundo ele)
Em uma entrevista à revista Bizz, em 1995, Lulu, ao ser perguntado sobre Moraz, afirmou que o tecladista era “um sujeito horroroso”, entregando ainda que, nas internas do Vímana, o cara era chamado (pelas costas, claro!) de “Marick Patráz”.

- Frustração: Quando o disco estava na gaveta da Som Livre, um fã encontrou Lulu e pergunto se o disco ia sair. Lulu falou que a gravadora estava pensando em fazer uns overdubs de metais pro disco ser lançado, o que, obviamente, não ocorreu.



PS: lembrando que o blog é contra a pirataria e o link é apenas para as pessoas conhecerem e, se gostarem do que ouvirem, comprarem o original.

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